sexta-feira, 17 de abril de 2009

40º dia: Aleluia

Pois é, eu havia me enganado. O Blog morreu sim. Eu até tentei inventar uns títulos engraçados esperando que a partir deles surgisse a inspiração pra escrever posts engraçados. Não deu. Ainda coincidiu que a última semana do blog foi semana de prova na faculdade. Mas sem desculpas. Faltou criatividade mesmo.
Vamos então a um pequeno resumo do que aconteceu nesses 18 dias que ficaram sem relatos: pelo menos pra mim a vontade de tomar Coca diminui bastante, o que é bom, afinal, era esse o objetivo inicial de ficar 40 dias sem tomar Coca; vários amigos e parentes se acostumaram com o fato de eu não tomar Coca e começaram a tomar outros refris quando eu estava por perto. Foi legal conversar com algumas pessoas que leram o blog aleatoriamente e vieram comentar coisas como "muito legal cara" ou "eu nunca conseguiria ficar um dia sem Coca" ou ainda "e aí, vai uma Coquinha". Tudo muito legal. Também foi muito legal ficar fugindo de outros vícios como narguilés e cerveja, apesar de que isso também foi difícil.
Um detalhe importante que pode ser considerado por alguns como uma falta no esquema da Quaresma, mas tecnicamente não é: a partir do 30º dia, começamos a tomar refrigerantes mais plebeus: guaraná, fanta, sprite, cini, etc. O que aliviou bastante a vontade de sentir a sensação de cócegas no cérebro provocada pelo gás e ajudou, na minha opinião, a não ficarmos tão fissurados em refrigerante e não voltarmos ao vício em menos de uma semana.
O que fica por conta do leitor decidir se foi infração ou não e quantos ufir vale é o fato de que o senhor Netsuke decidiu tomar New-Cola. Tá, não é Coca, mas... né.
Explicando agora duas coisas importantes: 1) A corridas dos Mercadoramas. Isso realmente vai acontecer e consiste no seguinte: de bicicleta, passaremos em todos os Mercadoramas da cidade (que agora são apenas 19), em apenas um dia, comprando uma Coca-Cola em cada um. Vai ter foto e tudo mais. Quem quiser está convidado, manifestem-se. 2) A festa 40 litros de Coca: será um evento em que cada levará um garrafa de 2,5 L de Coca para consumo próprio. Tudo muito feliz. Ainda sem data definida, estão todos convidados também. Manifestem-se.

Temos algumas idéias pro blog. Talvez comecemos a viver "40 dias seguindo o Horóscopo", ou "40 dias sem comer carne". Ainda não sabemos. Mas, por favor, ainda não deletem o blog dos favoritos.

Por fim, gostaria de agradecer aqueles que acompanharam o blog e convido a todos a tomarem uma Coca comigo à meia-noite de hoje. A minha já está comprada.

terça-feira, 31 de março de 2009

22º Dia: Este Blog morreu?

Não gente. O Blog não morreu. O que acontece é que todo mundo está cansado de saber que nós passamos vontade todo dia; que nossos parentes nos sacaneiam todo dia nos tentando com o líquido precioso; que é duro ir ao Mercadorama quase todo dia e ver aqueles mísseis do capitalismo geladinhos pulsando, e quase falando "Me pegue, me abra, me tome". Todos já sabem disso, E é para não ficarmos repetitivos que diminuímos o fluxo de postagens. Mas não se desesperem leitores amigos. A criatividade cresce inversamente proporcional a freqüuência (com trema).
Porém uma coisa que vocês leitores não sabem é os termos em que esse combinado foi feito. A princípio pode parecer um mero "e aí, vamos ficar 40 dias sem tomar coca? vai ser legal", mas não. Há mais por trás disso. Se, como demonstrou nosso amigo Hélio, existe um preço a pagar por se largar a Coca-Cola, também existe um preço a se pagar por furar uma Quaresma de Coca-Cola com os amigos. E esse preço se chama: Rollmops (com link pra quem, como eu, não sabia o que era). "E pra beber, não vai nada?" diria mamãe. Claro que vai. Pra acompanhar essa combinação hedionda de sardinha e cebola vai um copo de 500ml de suco de Clorofila, que só se chama suco por convenção social, o nome certo deveria ser Suor do Capeta ou Fernando.
Obviamente não é só isso - os caras do "No Limite" comiam olho de cabra facinho, não seria tão difícil detonar um Rollmops - o pior mesmo, é que quem largar mão da Quaresma, vai ter que começar de novo. Os leitores até poderiam torcer pra que isso acontecece, já que isso garantiria a continuidade do Blog, mas nós também somos filhos de Deus, e Deus gosta de Coca.

Antes de acabar esse post gostaria de dizer duas coisas. 1) Que ele sirva de homenagem também aos dias 21 e 18 da nossa jornada, que, apesar de não mencionados, não foram de menor sofrimento. 2) Dar um preview do que a por vir: The Coca-Cola Code, A Corrida dos Mercadoramas, a '40 Litros de Coca Party' e "Coca-Cola, Água e Petróleo: Um Estudo".

domingo, 29 de março de 2009

20º dia: O ponto médio

Hoje a cruzada contra o vício chegou a metade. Um ponto importante para ver o que já foi conquistado até agora e decidir a estratégia para o segundo tempo. Os objetivos iniciais eram simples: reduzir os gastos excessivos que tínhamos com as taxas do líquido sagrado todos os dias. Como bônus, ainda nos prometeram uma melhora na saúde. Pois então, o que foi obtido até agora?

Dinheiro. Com a economia dos, em média, dois reais diários, hoje eu deveria ter uns quarenta reais. Claro, eu não contava com isso desde o começo. Afinal, eu teria de beber outras coisas. Dentre loucuras como estocar pacotes de tang de abacaxi para misturar em uma garrafinha d'água e acreditar na promoção do suco de laranja do habib's, uma conclusão foi tirada: suco é absurdamente caro. Não adianta, comprar Coca não é exibicionismo. São quatro reais por dois litros. no habib's você ganha meio litro de suco de laranja pelo mesmo preço. Claro, eu usei uma alternativa das mais caras como exemplo, existem sucos mais baratos, mas a única alternativa que encontrei que supera o custo-benefício da Coca é um maguary de suco de caju, e não, obrigado.

Saúde. Não adianta, assim como o cara do Molejo tem pulmões que sabem que são de um fumante, meus ossos sabem do que eu gosto. Eles estão estranhando todo esse cálcio extra que meu corpo está absorvendo. Não, essa vida não é pra mim, quero voltar pra sacanagem.

Alegria. Com mais dinheiro e mais saúde, uma pessoa tende a ser mais feliz. Bem, se nos outros parágrafos eu mostrei que não atingi os objetivos anteriores, seria paradoxal confirmar que sou uma pessoa feliz aqui. E não só pelos fatores anteriormente descritos. Aqui em casa, o clima é de desunião. Vinte dias de greve e ninguém reparou que os mísseis de 2,5L demoram alguns dias mais para se esvaírem. Não há contato familiar, aquela reunião com todos em torno de uma mesa com uma Coca no centro não ocorre mais. Eu tento evitar a imagem da Coca e demoro para aparecer, e aos poucos, ninguém faz mais questão de falar com o outro. É o fim dos valores na sociedade moderna. Sem querer, consegui desestruturar ainda mais a minha família. Para se ter noção do estrago, devido a minha ausência na reunião de escolha do refrigerante da semana, ousaram trazer uma garrafa de New Cola aqui pra casa. Almoço com todos à mesa? Sobrevivi o domingo a base de iogurte. Minha irmã, não vi o dia inteiro. E todos passamos o dia inteiro em casa.

Alô, diabo. Você conseguiu.

sábado, 28 de março de 2009

19º Dia: Um pouco da história de todos nós

Numa cidade não muito grande, no centro de um país morava um garoto. Ele se chamava Hélio Caetano Eagleton. E é a história dele que contaremos hoje: Hélio morava com seus pais e era muito amado por sua família. Seu problema mesmo eram seus colegas de escola, pois estes não perdoavam o fato de que Hélio não se enquadrava nos padrões que eles exigiam. Ah, maldita ditadura da estética. O maior problema de Hélio era o seu peso: não que o excesso de peso lhe causasse algum mal estar físico, problemas de coração, etc., mas seus colegas não hesitavam em lhe dar os piores apelidos, aqueles malvados mesmo. E principalmente não perdoavam seus protuberantes mamilos. "Aposto que você pode usar eles de travesseiro", "Você faz queijo aí embaixo?" eram coisas que Hélio costumava ouvir.
Durante as excruciantes horas escolares, Hélio só tinha um consolo: a hora do lanche, porque era nessa hora que Hélio fazia aquilo que lhe dava mais prazer na vida: tomar uma maravilhosa, geladinha, voluptuosa, arrepiante, garrafa de 1 Litro de Coca-Cola. Essa garrafa era seu ticket para um mundo imaginário e feliz em que tudo era regido por ele, as pessoas o amavam e ele não era "o blob".
Depois de muito reclamar para seus pais do freqüente bullying sofrido na Escola, seus pais finalmente tomaram uma atitude: Decidiram que Hélio entraria numa dieta rigorosa, refeições com horário predeterminado, sem comidas gordurosas, muita salada e frutas. Decidiram também que ele começaria a fazer exercícios: natação 3 vezes por semana, basquete aos sábados e que ele iria e voltaria todos os dias de bicicleta para a escola. A princípio estava tudo OK para Hélio. Apesar de não ser um modelo de força de vontade, Hélio queria muito ser aceito pela sociedade (que tristeza não, caro leitor) e decidiu aceitar. A única coisa que Hélio não quis aceitar foi ficar sem o Líquido que governa até o Um Anel. Mas a imposição de seus pais foi implacável, e até mesmo a esse sacrifício Hélio teve que se submeter.
As coisas realmente pareciam que iam dar certo, Hélio emagrecia a olhos vistos e como num passe de mágica, aos poucos, as pessoas vinham falar com ele no colégio. Tudo parecia ótimo, e por um breve momento Hélio soube o que era ser popular. Mas como nós estamos mostrando, ficar sem Coca-Cola tem seu preço. A taxa de emagrecimento de Hélio não dava mostras de que ia parar e em pouco tempo Hélio estava fernandatorresmente magro e terrivelmente branco (uma garrafa de Coca às avessas). Novos apelidos surgiam ("Skullomania", "Cranicola"), mas dessa vez não era apenas a integridade moral de Hélio que estava sendo afetada, mas a física também. Hélio estava anêmico e contraia várias doenças ao mesmo tempo. Seus pais mandaram-no para vários nutricionistas e fizeram-no tentar várias dietas para reganhar peso. Mas nada adiantava, porque o que faltava na vida de Hélio, não era comida, era o néctar dos Deuses. A nossa Coca-Cola. Era isso que Hélio queria, mesmo sem saber, pois era jovem e ingênuo.

Por ser um pouco da história de nós, homens comuns, a história termina aí. Sem desfecho decisivo. Decida você qual será o final da sua história. Qual é a sua vibe?

quinta-feira, 26 de março de 2009

16º e 17º dias: Onde os fracos não têm vez

- To indo no Burger King. Agora.
- Não, cara! Você não pode tomar Coca!
- Foda-se esse jejum! Larguei a brincadeira! To indo lá agora!
- Pega um guaraná, então! COCA NÃO!
- Não! Eu to enlouquecendo, preciso de Coca!

Foi desesperado assim que liguei pro Cássio. Estava eufórico. Andava de um lado para o outro da casa, incomodado com algo que não sabia o que era. ou melhor, desde ontem eu já tinha certeza do que era: minha primeira crise de abstinência.

Na verdade isso começou na terça, quando meu humor simplesmente virou de uma hora pra outra e sem nenhum motivo aparente. Durante um acesso de loucura quando minha Internet caiu pela 3ª vez, dei um soco na parede que deixou minha mão doendo por quase dois dias.

De início, não creditei essa mudança súbita de humor à falta de Coca. Podia muito bem ser apenas uma crise de frescura ou uma bipolaridade desconhecida, mas ontem eu vi o quão grave era a situação da abstinência. Comecei me questionando se era válido continuar com essa loucura. Por que eu iria ficar sofrendo por 40 dias, se eu iria voltar a beber como um alcoolatra velho de guerra assim que o 41º dia chegasse. Não via sentido naquilo e foi como quando questionam a fé de alguém: plantando uma dúvida no alicerce para que logo tudo desmorone.

Não demorou muito para que aquilo começasse a fazer efeito. Meu humor novamente começou a variar novamente e passei a ficar eufórico. Não conseguia ficar parado por muito tempo e, quando tentava, meu nervosismo se tornava bastante evidente, seja batendo o pé freneticamente no chão ou batucando inconscientemente com a mão. Tomei um banho para tentar relaxar e decidi dar uma volta.

No caminho, minha cabeça começou a doer e fiquei tonto um par de vezes. Minha boca começou a ficar com aquela sensação estranha que se tem quando está com sede, como se a saliva engrossasse e você precisasse beber algo. Comprei meio litro de suco de laranja, mas continuei com aquela sensação estranha.

Quando fui com minha namorada em uma lanchonete, já no fim do dia, era possível ver em mim a figura de um viciado tentando se livrar das drogas: batendo freneticamente na mesa, sem se dar conta, ansioso e com aquela maldita sensação de sede que não passava.

Hoje, apesar de ter acordado um tanto quanto alegre, o mau humor logo apareceu e foi seguido pela euforia e pelo desespero. Foi quando decidi que ia largar essa putaria de ficar 40 dias sem Coca e que iria ao Burger King naquela hora, compraria o maior dos hamburgeres e passaria a tarde tomando Coca e sendo feliz. Liguei pra minha namorada e ela me apoiou, dizendo que eu tinha mesmo de largar essa loucura. Liguei então para o Cássio, avisando que estava fora da brincadeira e foi quando o diálogo que inicia esse post aconteceu.

Peguei meu dinheiro e desci obstinado: eu iria ao Burger King e morreria tomando Coca. Segui meu caminho até a esquina da minha casa, quando entrei no mercado com o seguinte pensamento: se tiver hamburger e um suco, eu entenderei como Deus me dizendo para continuar com meu jejum. Se não tivesse, iria mesmo ao BK ser feliz. Resultado: Deus quer me manter longe da Coca.

Quando retornava, fiquei me olhando no espelho do elevador e percebi o quão parecido com um drogado eu estava: cabelos grandes e bagunçados e enormes olheiras em meu rosto. Estou em um estado tão deplorável e sequer cheguei na metade do caminho. Se as coisas continuarem como estão, ou morro em cinco dias, ou acabo matando alguém. Mas também posso engolir uma pilha.

terça-feira, 24 de março de 2009

15º dia: O paraíso é o inferno with benefits

O inferno deve se parecer com o paraíso, proferiu um colega meu anteriormente. Acredito nele. Para exemplificar essa máxima, cito a última visita de meu pai a cidade. Como ele vem uma vez por mês, em média, nós saímos juntos e, em determinado momento, passamos no shopping, onde o estabelecimento escolhido para preparar a nossa comida foi o Burger King.

O nome do lugar é justo. Nada mais faz me sentir um rei como escolher qual dentre tantos sanduíches com suas combinações de preparo e acompanhamentos irá me acompanhar na jornada ao sabroso reino do paladar. Naquele dia, optei pelo BK Stacker Quádruplo, uma sempre boa opção, afinal, não tenho de pedir para tirar as coisas saudáveis dela, elas simplesmente não vêm. Entre dois pães, quatro hamburguers com fatias de queijo entre cada uma. Entre o pão de cima e o último hamburguer, fatias de bacon. Se fosse um sanduíche proibido ao invés de fruto, certamente essa seria a causa da expulsão do nossos tataravôs do Éden.

A escolha estava feita. Enquanto aguardava o preparo, recebi um copo de 500ml. O cálice sagrado da mais importante característica do local: O REFIL INFINITO. Em meus planos para depois desses dias tristes, pretendo não tomar mais que 600ml por dia, salvo dias de celebração e feriados, em que o céu será o limite. Pois bem, qualquer refeição no BK é motivo de celebração, e das grandes. Estava ali com meu cálice pronto para ser preenchido pelo alegre líquido quando me dou conta que não poderia apertar o botão embaixo da marca vermelha da paixão. Quase entrei em choque. EU TENHO UM COPO INÚTIL, pensei. Toda a alegria e cor daquele reino se esvaíram em segundos.

Fazer o quê, tá no inferno, enche o copo de chá.

14º dia: Como um eunuco no harém

Formatura é uma coisa linda. Música, muita gente feliz, alegria e comida. E bebida. Muita bebida. Formaturas são, geralmente, o paraíso do pessoal etílico, já que sempre costuma rolar um open bar para a alegria da moçada. Para quem não bebe, também tem água e refrigerante à vontade. E Coca.

Foi para ir à formatura de uma velha amiga da minha namorada que visitei sua cidade natal, Santa Izabel do Oeste, bem no interior do Paraná. De Curitiba até a cidade são cerca de 8h de ônibus e, como a formatura foi em outra cidade - Cascavel -, foi mais uma hora de carro até chegar lá, totalizando cerca de 9h de viagem para chegar em um lugar com Coca grátis all night e ter de se contentar com uma garrafa de água, que ainda tinha um gosto duvidoso.

Era incrivelmente deprimente estar lá, no meio da tentação, e não poder fazer nada. Naquela noite me senti como um novo-eunuco no meio de um harém, olhando aquilo que ama e não poder tocar. Ou um viciado em cocaína fazendo pacotinhos da droga. E olhe que estamos praticamente falando do mesmo composto químico.

Como se não bastasse a tristeza de não poder beber, a mesa da formando tinha de ser exatamente ao lado de onde os refrigerantes eram guardados em grandes recipientes com gelo. Estava ali, esperando que alguém chegasse com seu copo e matasse sua sede e sua vontade. E, como desgraça pouca é bobagem, às vezes aparecia um garçom e enchia uma jarra prateada com aquele líquido negro e vinha me oferecer. "Coca-Cola, senhor?". Não, obrigado. Estou satisfeito com minha água sem gás.

Estar em um lugar que tem tudo aquilo que você deseja e não poder desfrutar nem um pouco sequer é tortura. Tenho certeza de que o Inferno se parece com o Céu.